sábado, 27 de agosto de 2011

Afagar a terra, conhecer os desejos da terra...


O Cio da Terra

Composição: Milton Nascimento / Chico Buarque

Debulhar o trigo
Recolher cada bago do trigo
Forjar no trigo o milagre do pão
E se fartar de pão

Decepar a cana
Recolher a garapa da cana
Roubar da cana a doçura do mel,
Se lambuzar de mel

Afagar a terra
Conhecer os desejos da terra
Cio da terra, propícia estação
De fecundar o chão.

A cada semente que se lança ao solo há uma esperança de que germine e possa produzir alimentos segue-se um verdadeiro ritual onde diariamente o agricultor inspeciona e realiza atividades para permitir que a safra seja boa.

Ao cair da noite recolhida aos seus aposentos ergue em sinal de fé uma oração pedindo que a chuva venha no tempo certo, para cansada, mas feliz sonhar poder comprar aqueles utensílios domésticos que o companheiro deseja. Ou ver os filhos freqüentando a escola e nas férias poder reunir todos em todo de uma mesa e comemorar um ano em que a vida fez sentido.

Aquele que lavra o solo e semeia literalmente tem os pés no chão e trabalha para produzir o necessário para as necessidades suas e de seus familiares dentro de um conceito de sustentabilidade, protege-se o rio que é de onde retira a água, o peixe e irriga o solo; a mata que fornece o madeiro, que serve para que animais cumpram seu papel para o equilíbrio ambiental.

Ao raiar de um novo dia o sorriso no rosto reflete a eterna esperança de que a vida vai melhorar.
A jornada continua, ainda que nem sempre, as leis do mercado compensem seu esforço.
Quantas vezes, tudo o que fez não será suficiente para remunerar tudo o que investiu?

Quantas vezes, estará endividado e no limite de suas forças, tentará mais uma vez, contar com a sorte de fatores sazonais interferirem a seu favor e haja demanda suficiente no mercado para consumir seus produtos?

O agricultor é um bravo que lança ao invés de lágrimas, gotas de suor deságuam de sua fronte e calado resigna a trabalhar mais e mais, enquanto aguarda que a política, o tempo e o mercado resolvam conspirar a seu favor.

Hilda Suzana Veiga Settineri

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